Manifestação Coletiva de Professores e Estudantes de Antropologia da Universidade Federal de Santa Catarina – Brasil

08/06/2016 15:06

Profundamente preocupados com a gravíssima situação por que passa o Brasil, nós, professores e estudantes do Departamento de Antropologia da Universidade Federal de Santa Catarina, vimos nos juntar ao movimento que se inicia em várias universidades e centros de pesquisa, em defesa da democracia e pela restauração da legalidade e do Estado Democrático de Direito no país.

Repudiamos um governo alçado ao poder por uma estratégia de usurpação que se torna cada dia mais evidente em seus mecanismos e em suas intenções. O golpe, perpetrado por um conluio entre um parlamento com seríssimos vícios de representatividade, banhado em suspeitas profundas de corrupção sistemática e uma elite econômica, corruptora, contrariada e inconformada pelos poucos avanços já alcançados por parcela historicamente menos favorecida de nosso país, vem dia a dia se revelando um movimento evidente de retrocesso de alguns dos direitos sociais conquistados a custo em anos recentes. Um governo, destinado a ser simplesmente interino, a cada dia mais pretende se estabelecer e se impor como se eleito tivesse sido, dando início a um processo de reforma que ataca duramente, entre outros, os campos da educação, da ciência, da arte, da cultura e dos direitos sociais em geral, fundamentais na manutenção de uma sociedade democrática. Solidários a outros movimentos em curso no país, julgamos esse governo ilegítimo para impor um programa de mudanças que não foi aceito pela população em nenhuma das eleições recentes.

Cotidianamente, terríveis anúncios povoam os atos vindos de Brasília: extinção de ministérios e outros órgãos estratégicos ao avanço do país, de seu progresso social e de sua soberania; ameaças ao investimento público em saúde e educação; esfacelamento da agenda de compromissos ambientais em prol de interesses imediatos de grupos econômicos; desmonte das pautas mínimas de direitos das minorias; e, sobretudo, a implantação sistemática de políticas de governos absolutamente desvinculadas da vontade popular expressa pelo resultado das urnas.

Nos próximos dias, articularemos uma pauta de atividades para levar a público nossa posição de clamar pelo fim imediato das ações de desmonte dos avanços conseguidos nos governos recentes, e fomentar a reflexão e o debate sobre a atual realidade do país, os destinos que estão sendo traçados e as alternativas que podemos imaginar a partir desta experiência recente. Consideramos fundamental que se consolide nos meios acadêmicos, e em toda sociedade, uma postura de resistência ao retrocesso que está sendo imposto ao país, e em favor da soberania popular, dos princípios fundamentais da República, dos direitos sociais e da igualdade na diversidade para que possamos construir um Brasil verdadeiramente democrático, mais justo e plural.

Ao mesmo tempo, conclamamos também todas as associações científicas que congregam nossos colegas de todas as áreas, comprometidos com o avanço do país, que se manifestem contra este inadmissível desvio dos atos de governo da vontade popular expressa nas últimas eleições, e em defesa da legitimidade popular na escolha dos governantes e de seus programas de governo. A ciência construída e desenvolvida no Brasil tem uma relevância considerável para o progresso social e a soberania do país, é reconhecida internacionalmente, e está a correr sérios perigos com o desmanche de que tem sido vítima pelo governo interino.

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