Manifestação do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social

22/03/2020 20:16

No último dia 19 de março, através de um repasse do coordenador da área de Antropologia e Arqueologia e posteriormente encaminhado pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação da UFSC, recebemos as determinações da Portaria nº 34 da CAPES, publicada no dia 18 de março de 2020, alterando os critérios de distribuição de bolsas de mestrado e doutorado em nosso país.

Essa portaria descumpre os acordos firmados e anunciados anteriormente, os quais já eram problemáticos por vários aspectos de governança e muito pouco favoráveis à pesquisa e ensino na pós-graduação no Brasil, acentuando ainda mais a crise na pós-graduação. Trata-se de uma ação destruidora e autoritária, uma expressão da brutalidade com o qual a CAPES vem atuando nos últimos tempos. Isso semeia ainda mais caos num momento em que a sociedade brasileira precisa se unir em solidariedade por uma questão de saúde pública.

Como resultado desse ato, o Programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFSC, um programa de reconhecida excelência nacional e internacional, e pioneiro no que tange a reflexão sobre as políticas de ações afirmativas e de acolhimento da diversidade, comprometido sempre e cada vez mais com a produção de um conhecimento de excelência, rico e portador de inovação, se encontra atingindo de maneira irreparável. Além das perdas significativas de bolsas, toda construção da política de ações afirmativas se encontra irremediavelmente comprometida, são anos de planejamento e reflexões de suma importância para a sociedade brasileira.

A produção científica da pós-graduação brasileira na área de Humanas é de fundamental importância para compreender e enfrentar os impactos do coronavírus na vida social. Mais do que nunca as pesquisas científicas em todas as áreas são fundamentais para entender e prevenir as diferentes formas de propagação do vírus. Os avanços na pesquisa com saúde pública têm sido a diferença nas medidas de contenção do vírus nas experiências mundiais compartilhadas. Esse conhecimento é produzido em programas de pós-graduação em Antropologia como o da UFSC, que também contribui com inovações para outras dimensões da crise, quando ela chega às portas de uma sociedade tão diversa e desigual como a sociedade brasileira.

Dessa forma, repudiamos a Portaria nº 34 da CAPES e demandamos sua revogação, com a devolução das cotas de bolsas. Demandamos também a refundação total da maneira pela qual a CAPES, grande conquista da pesquisa e ensino em nível de pós-graduação da sociedade brasileira, atua e se relaciona com os diversos Programa de Pós-graduação que, teoricamente, a compõe. Isso inclui a suspensão de todos os prazos vigentes atualmente, como o relatório Sucupira (em consonância com a manifestações dos Coordenadores de Áreas), a manutenção de todas as bolsas existentes e a retomada, de maneira aberta e participativa, das discussões sobre financiamento, avaliação e políticas de gestão em geral quando as condições sociais o permitirem.